quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Gafanhotos da Candelária

Ainda que nos pareçam felizes,
O cantar dos gafanhotos noturnos
Têm consigo as elegias soturnas
Negando a si, sim, suas próprias raízes

Levando consigo as tristes valises
De valentes vidas cinzas no turno
Dos contentes seres rindo, no morno,
Contendo-se com tais vidas risíveis

E então é só isso que irão cantar
Tais bichos certos, da vida, marcados
Cantando um canto tão contraditório

Portando a voz do próprio purgatório
Enquanto soubermos só odiar
Cantam as mortes dos tempos passados

A Corda

E as entranhas destes meus sons perfeitos
Se estranham e dão de cara ao concreto
Na saída, são estes sons meus, feitos
Que poderão plantar, do ser, o feto

Ao menos em minha cabeça aceito
As cores deste panorama reto
Que permeia de onírico meu leito
E recreia, na minha canção, o afeto

Que, enfim, de colorido, vem trazendo
As vestimentas de meu amor ingrato
Abrindo as portas de mia própria mente

Que não mente, e sim traz somente o fato
Da tão morta e renegada semente
Vendo o amor e o som, tão tristes, morrendo

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Vai Saber

É incrível.
Simplesmente inatingível o entendimento de tal conhecimento aprazível,
De como podem sonhos serem desfeitos
Por um mundo cheio de defeitos,
E ainda assim viver-se nele eleito
Da boa fé e continuança.
Imaginei que fosse aí a morada da boa-aventurança:
Onde sobre o caixão do medo a despreocupação dança.
E faz-se assim da noite uma tenebrosa e assassina criança,
Algo que para enfrentar-se, não há peito,
Algo a que submeter-se, não trás efeito,
Ao menos, não um previsível.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Insoneto

Não vou dormir agora, porque o sono
Se faz no ser humano algum sentido
Certamente ele não o faz comigo
Nem com meus sonâmbulos cromossomos

É lenta a sonolência do carbono
Nem carneirinhos mais contar consigo
A insônia deve ser um bom castigo
Por ter dos sonhos destruído o trono!

Agora, quando penso aqui no escuro
"Como todos os dias sei que durmo
E não me lembro nunca ter dormido?"

Pergunto, escuto o silêncio noturno
Sabendo já que, se for respondido
Vou dormir e esquecer-me no futuro

Nerocracia

Conjugo e julgo
Os julgados rasgados
Os rasgo e jogo
Aos meus pés sagrados

Uso e abuso
Dos que vivem a servfir
Servem ao que eu quero
Nunca me acusam

Quero e espero
Absoluta quietude
Nenhuma atitude
Ao menos não a si próprio

Me aproprio
E digo: "Faça!"
Enquanto me sento
E bebo de uma dourada taça

Não olho pra fora
Antes levem-nos embora
Que guerreiem comigo
E me tirem de meu umbigo

Dou nós em "nós"
Amarro o cós
Com as vontades alheias
Já estão às cadeias

Me entristeço e peço
Que não sejam egoístas, os serventes
Pensem mais em mim!
(Eu mereço!)

Rogo e rezo
Não me abandonem!
É uma ordem, não um pedido!
(Fico impedido!)

Mas ó, que indecente
Querer impedir o progresso
Querer dar direitos à gente
Responsável pelo nosso regresso

Desgraça ou pirraça?
Até minha dourada taça
Querem tirar de meus domínios
Seus macacos!

Quebram e partem
Querem me quebrar!
Raios o partam!
Nunca irei sangrar!

Irônico ou cômico
Ainda mais aqui no sul
Que neste país tropical
Meu sangue não seja azul

domingo, 24 de novembro de 2013

A Tua

Fluxo aberto do sangue que lhe escorre.
Justo afeto, mas que se encolhe e morre
Enquanto os honestos, da vida, correm
E os mantos de concreto desespero
Que cobrem os devedores da verdade,
Os quais de fato pulam por cidades,
Até jamais se importarem com a idade
De seus ideais e de ideologias,
Tentam mostrar consigo sempre o esmero
Até destruída sua própria magia.

Vida reta caída ao triste abuso.
Sabedoria antiga, já ao desuso,
Transformando vidas que tudo sabem
Até que suas internas fontes se
Derem por vencidas e acabem, sim
Até chegar a nova chama, enfim
Chamando aos nossos serafins, contentes
Participando enfim da nossa gente
Descendendo de seus astros, carentes
Absorvendo as ideias latentes.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sombra

Tenho coisas mais importantes a fazer
Que me preocupar no que crer
Que me preocupar em fazer
Tenho coisas mais importantes que teu ser

Sou a sombra imponente que se julga bem capaz
Sou capaz de transformar o mais herói em capataz
De um vilão feio e deselegante, porém bem sagaz
E que muito dominante, de poder te satisfaz

Também sou este vilão, sou o ferro do seu fogo
Os peões, cavalos e reis deste jogo
Os jogos forjados pelos homem para controlar
Todas as coisas mais importantes que o mar ou amar

Sou o fogo que destrói as correntes da derrota
Para inflar no tal perdido a tal ânsia da vingança
Sou a espada que o vingador brande contra os reis
Sou os reis que brandem sangue perante a morte ingrata

Eu tomo forma da vilania que percorre as veias do trabalhador
Dos filhos e esposas, sou a voz do interior
Que insiste em matar e roubar quem não vier trazendo lucro
Sou a morte que despeja sobre os bons o velho luto

Sou nada além daquilo que se pode ver
Sou uma sombra, sim, mas ainda hei de recolher
Todas as formas para que finalmente possam saber
Que nada além de humano sou, afinal, quem não vê?

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ge(l)ada

O brilho de um olhar
Que, quando quer, engana e confunde
Mas não me ilude.
É um olhar inocente, de quem que descobrir
Até, finalmente, cair

Até o próximo instante, se faz inconstante e distante
E não me chama.
Por pés e léguas fica longe do que está ao seu lado,
A jovem dama.
Para então acender, numa nova vítima, a chama

A brancura dos sorrisos
E dos olhos faz parecer que é uma alma pura
Que cura
Mas os dentes seriam sujos e, nos olhos, catarata
Se mostrassem a verdade ingrata

Mas ainda sim purifica todo o ambiente,
Às vezes pura, então: malícia.
Ainda que o ruim nos pareça uma delícia
(Não que não seja, claro)
O limpo se faz um commodity raro

Mas tenhamos calma
A jovem dama não se engana ou destrata de propósito,
E a propósito,
Seus sorrisos, quando vindos, nos fazem esquecer de qualquer propósito
E nos acalmam

O sangue de luxúria, caos, ordem e inocência
Que em suas veias corre
Confunde, inclusive, sua maculada essência
Seu eu-mesmo morre
E meu eu-lírico se comove com sua história

E, sem demora,
Tenta salvá-la da escuridão (e da luz)
Lhe dar emoção
E fazer brotar, de novo, na dama, sua flora
Seja a forma o que for

Com grave estupor
Lhe grita de volta à realidade cinza
Não grita "amor"
Mas "Não transforme tudo isso em cinzas,
Por favor.".

E a jovem dama, sem drama e sem egoísmo,
Sem maniqueísmo,
Se põe à sua essência, absorve e emite tudo ao seu redor
Transpõe sua alma
E volta a(o) que(m) era antes de sentir-se só

domingo, 17 de novembro de 2013

Outra noite, outro norte

Finalizo pelo começo
Faço de rima o que anseio
Falo de mim, mereço
Posso? Não sei. Paro, receio
Frio, barulho, escuridão
Falo ou calo?
Concordo, sem aptidão
Já não me abalo
Faço melhor, traço
Faço melhor, abraço
Faço melhor, faço!
Ou será que desfaço?
Se faço ou desfaço?
Não sei ao certo
Sei que vou descalço
Pr'onde é perto
E pr'onde quero que seja
Eu que defino distância
Eu que sou dono de mim, veja!
A palavra me acaricia
Me dobra e me guarda
Me dá voz e depois me cala
Me deixa em guarda
Tira-me de escala.
Vem de arte
Me reparte
Peço aparte
Me divide, parte
Eu? Defino como perto
Fico aqui assim
Sem saber o que é certo
Inicio pelo fim.

sábado, 16 de novembro de 2013

A Mar II

A Mar é uma menina bonita
Ou feia se assim desejar
A Mar pelos mares lhe fita
E um beijo dela tu queres roubar

É oceânica e cheia de vida
É tudo que pode sonhar
É tudo que quer ver ou tocar
É tudo, é ela, é Mar

E ela não se esconde em paredes
Não tece, de mentira, as redes
É sincera e ama o mundo
Mas deseja fugir disso tudo

Enquanto a cidade ela deixa
Os trovões se ponhem a tocar
As nuvens estão tristes e rugem:
"Por que é que fugistes, ó Mar?"

Mar deseja escapar
Mar deseja o oceano
Mar só quer velejar
Mar não quer ter um dono

Mar não se cala, mas consente
Com o mal que se faz consciente
A tudo que absorve constantemente
Dificilmente chegará a ser contente

Pois Mar de tanto ser amada
Não conseguia nunca amar
Então se encontrou afogada
Deixada no fundo do mar

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Mar

A corda que amarra o meu peito
E que tento e não posso soltar
A corda que amarra o momento
A corda que amarra o pensar

As vozes que chegam roubando
E insistem em ouvir seu gritar
As vozes que chegam chorando
As vozes que chegam do mar

O peito que não mais bate
O cão que jamais late
A vida que vem e bate
Mas nunca até que mate

Somneto


Quero fazer um som, assim do nada,
Que cruze as almas, e nelas imerso
Se solte e as solte, e saia assim disperso
Ao nada e ao infinito, e não se apaga

Quero fazer um som que, bruto, esmaga
As vibrantes entranhas do universo
E frágil como as tônicas de um verso
Confunde-se em algumas notas vagas

Quero fazer um som que quase exploda
Que nas janelas alheias ecloda
Soando ao sul das sísmicas cirandas

E farei este som, n'alguma banda
Numa harpa solo ou numa orquestra toda
(E quem quiser silêncio, que se ...)!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Problemas (e) Paralel@s

Preciso daquilo que o trovão e o raio não satisfaz
Que a maior velocidade não leva nem traz
Para trás anda a trote o pensamento
Que insiste em insistir qualquer for o momento

Prefiro o trovão que a luz que me cega
Profiro um rojão pela voz que me nega
Ainda que em papiros, escrevo uma carta sem destinatário
Fazer um náufrago achando-se um pário
Mas não passará de um otário

Preciso dos litros que compõem o volume das minhas imagens
Antes que eu imagine-as e elas caiam na memória
Que tão longe e tão perto, nunca dá o que ela toma
E faz a real intenção escapar pelas margens

Por mais que insistente, o existente não traz a luz
Nem pinta sequer o mais rupestre quadro
De emoções e locomoções à velocidade suprema
E apaga e rasura nossas pinturas

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Prefiro escrever no papel

Prefiro atirar-me ao céu
Que tocar uma vida sem-graça e impedida de ser real
E então finalmente me vejo
A entender absolutamente as notas desse musical

Até impedindo o irreal e surreal de tomar parte
Mas à parte do que é
Sentindo realmente o que mantém o pesamento de pé
Até que o pensamento se farte

Antes o infarto
Que o parto mal-feito de ideias desfeitas por ideais duvidosos
E não é torto
O morto que desdenha os fatos vivos a partir dos referenciais raivosos

E se virtualiza o que pode vir a realizar um fato, de fato
Até que a ilusão
Chega e morde o que se fez de sem voz, audição ou tato
Até morrer o pulmão

Ainda que independente
A distante semente se transporta às copas e Europas
Antes as estrelas
Que os ingratos inóspitos e encontros da mente

Mesmo que a gente se imponha absolutamente ao imposto
Não pagamos
E olhamos absolutamente com um incrível e ingrato desgosto
A quem, um dia, amamos

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Meta

Os cofres mandam, os nobres obedecem
Os nobres cansam, os pobres adoecem
Os pobres gritam, as ruas oferecem
A cura ao grito, à fome, à peste

As ruas lotam, as ruas crescem
As ruas lutam e o chão cadece
No solo infértil nada bom cresce
Além de ódio, antítese do que merecem

Os pobres odeiam e cospem na cara
Dos nobres com nojo do gado
Que os capturam e utilizam da vara
Até que não haja um rosto não marcado

Os tristes rezam e se entregam
Aos poderes que nada lhe negam
E só pedem em troca a crença
Para lhes dar o merecido em forma de benção

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Pensar é chique

Pulsa em minhas veias, soro vital
Parando a mente, um coro celestial
Recorda as luzes frias do Natal
Passado em tristes vias sem local

Então que chega um triste Serafim
Meio benção, só pra zombar de mim
Meio troça, para rirmos, enfim
E lembrar que até o céu chegará a um fim

Mas me aspiro a formas naturais, só
O que pudermos ver e tocar, só
Nada esotérico ou eufórico, só
O que não nos faça sentir-nos Sol

Sempre atormenta um tumulto constante
Sacode e gira essa mente pensante
Para então ponderar num breve instante
Qual papel jogar: amado ou amante?

Alegorias de impulsos me informam
Que as alegrias ainda sem forma
Demorarão a encaixar-se na fôrma
E abstratos versos elas sempre formam

Ainda que escondidos na lua cheia
Os sonhos perdidos se enchem e recriam
Vers'escondidos que à vida permeiam
Abrindo as nossas bandidas cadeias


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Dose

Dose.
A dose.
Adoce esta bebida.
Não perca a dose.
Coloque mais desta doce dose
nesta dita bebida.
Agora pare.
Já deu.
Azedou.

domingo, 3 de novembro de 2013

Cárcere

Salvando a saliva que percorre o pescoço
Sorvendo teu líquido vital por uma taça rachada
Valorando o pensamento, num momento
Tão inútil, inocente e ignorante
E perdido num instante

Mas falantes, os olhos amantes se transpõem
Numa dança visual se situam perdidos
Contidos a si mesmo e, principalmente
Caídos e bagunçados pelas mentes
Realizando sórdidos perdidos

sábado, 2 de novembro de 2013

Viagem ou Viajem

I
E por mais que sua boca diga que não
Sinto o seu coração

II
Tentamos ler os batimentos
Mas já perdemos o momento
Só lamento.

III
O que é isso, ressureição?
Ou uma simples retribuição?
Não quero nada de volta, não, não e não.
Não me deve nada!
Nunca lhe dei nada,
Na verdade.
Se acha que dei algo
Foi só alarde
E essa é a verdade.

Sentido... Nada mais.

[Teletransporte]
Copia perfeita
(Observa-se na menor escala.
Espaço-tempo em seu estado primordial.
Guarda-se todos os dados.
Como duas fotos com definições infinitas
de modo a saber d'onde tudo veio
e para onde tudo vai, e só então,
 apaga-se ou cria-se tudo.
A ordem... ainda penso) ou pulo dimensional?
(Observa-se na menor escala.
Espaço-tempo em seu estado primordial.
Não há copia tampouco criação.
Pulo dimensional.
Seleciona-se a matéria antes transcrita
e agora, por esta via,
joga-se-a para uma dimensão superior, e então,
Direciona-se a matéria ao ponto de recepção.)

[Multicapacidade]
Antes a cópia.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Lateral

Torçam-se nossos tambores e festas
Iremos adormecer nestas frestas
Do ar que perdura essas constantes faces
Num mar de eternos e internos enlaces

Vendo a pureza como algo escalar
Contido, o desprezo se faz c'olhar
Ferem'ma vida que os trouxe à amargura
E namoram sua própria irreal loucura

Com as gotas de seu sangue, veneno
Conta as notas em seus bolsos, veneno
Mostra as garras aos fantasmas, veneno
Coça as costas dos comparsas, veneno

Mas por mais que pequeno seja o dono
Não tiraria nem um pouco do sono
De uma criança boba, infantil e dócil
Contos terríveis, ruins que fossem, sim

Mas deixem rimá-los por mim
Enquanto levo ao fim
E conduzo uma jornada
Quase uma jogada
De xadrez ou até gamão
Antes de acharem são
O fato de ajudantes sem mão
Continuarem a acariciar vosso coração