terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Livre

Me livro.
Que levem as pontas soltas,
Que levem, se levem,
Se enrolem, se esqueçam.
Me esqueçam.
Me levem.

Meu livro de laços e enlaces e espaços
E advérbios seguidos de orações intermitentes
Sem término nem início nem enredo
São correntes
Está são?
Quem são?

Quiçá sabe explicar quem sabe,
Ou nunca saberia me dizer sobre o que explicamos,
Explicitamente,
Quem somos?

Sumo do meu corpo,
Sangue da minha alma,
Sumo do meu corpo
E, sem sangue, tenho calma.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Penso

Assim como familiares no velório
Que nunca serão
Sempre foi
A família, não este velório

E não é o enterro dos sonhos,
Mera suspensão criogênica
Dos sonhos e gênios
Da minha geração de trezentos e sessenta
Com cinco ciclos adicionais,
A menos ou a mais

E será como um sonho, tudo que houve
Mas acordarei ao sonho assim que acabar...
Acabar de começar.
Já acabou?

Não.
Por mais que sim, seja definitivo
De infinitivo nada é formado, a não ser as bases
E de bases já basta a governista, dispenso.

Porque não estou morto, não.
Estou só suspenso.

Rótulos e livros escritos

Algo sobre comodismo sem fim
Medo de perguntas importantes
De respostas de sim
E prazer com títulos em estantes

Ensinando a fazer música em conjunto
Correr com pressa bem calma na chuva
E com vontade de isolar, mas junto
Antes de fugir, jeito de guarda-chuva

Algo sobre escolhas e desejos
Desejo de poder escolher
Escolha de poder ter desejos
Tudo parecia depressa encolher

Aprendendo a fazer a canção só
Sem voz, com tinta e batuques
A garganta ainda quer dar nó
Sem vida, sem amor e sem truques.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Of Times Gone By

Enquanto os cantos não cessarem seus prantos
Encante aquilo que o canto não traz
Pois por muitos cantos espalhará estes contos
Acorde!,
antes que seja tarde demais.

E enunciando os primeiros deveres
Traz-se um universo de razões espelhadas
Começando os trabalhos, dispensando os lazeres
Faça!,
antes que esqueçam da sua risada

Não que algum de nós mande em nada
Mas é melhor levantar e fazer errado, de uma vez
Do que esperar uma conclusão empurrada
Acorde!,
mas só depois
de entender o que se fez

Pois talvez, só talvez, esteja tudo muito bem escondido
Dentro de uma adormecida consciência, um comedido fato
Mesmo que a contenção se faça
quase
como um pedido

Sonhe!, pois ali talvez
(só talvez)
encontrará os rastros

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Idioma Comum

Essa língua
O idioma sem tradução
O enema do planeta
O idioma quebrado, sem letra nem rima

Nossas línguas
Distantes como nações árabes
De uma língua dura e incompreensível
Sem língua cabível para nosso coração

E sem fluência
Com a influência dos países de nosso ser
Sem ser entendido, sem ouvir o que quer
Querendo ser ouvido pelo vizinho

Duas línguas,
Minha e sua,

Impossibilitando a comunicação do desejo
E sendo um despejo de sonhos e aventuras
Pelo mundo
Sem nações
Sem idioma, sem voz
Sem nós.

domingo, 12 de janeiro de 2014

ConstelAções

O preto-no-branco
Do ímpeto manco
De enxergar coisas no céu

Contando histórias
Lembrando memórias
Há muito escondidas num véu

Em nuvens, estrelas
Formatos, maneiras
De se entender como ser

Rogando, pintando
De cores bem brandas
Sem, do umbigo, crescer.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Lentes

Somente uma alma doente pra dizer
Que por lentes se enxerga melhor,
Que são elas reveladoras - nos fazem crer
Que a oclumência mental imperturbável
Se sacode com as máscaras do olhar

E as janelas à alma se disfarçam e mentem,
Somente por capricho de um dono egoísta
Com olhos racistas, arrogantes e azuis.
Ou cor de mel, olhos de artista,
Quais mais fingem sua cor que admitem seu ardor

Fazem e realizam, torcem as córneas
Para que pareçam humanos, os olhos.
"Mas o que é humano?", perguntam os seres
"O que enxergamos sê-lo, claro!", respondem os cegos,
Imbuindo ao coalho devassos poderes.

E são eles responsáveis pelo mal!
São eles os duvidáveis agentes!
Que se perdem por impulsos elétricos
Para fazer-nos enxergar o final.
São os céticos por trás dessas lentes!