sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mãe Imaginação

Posso deitar minha cabeça no teu peito?
Assim, assim está bom
Sabe mãe, esta vida de realidade é muito dura
Me sinto tão cansado e dissecado
As coisas são cinzas demais

Me faz carinho com esses teus dedos imaginários
Ah mãe, sinto saudades de casa
Daquele tempo que a gente não precisava se esforçar
pra ter devaneios doces e destemidos

Mãe Imaginação
Me amamenta com as ideias mais brilhantes

Só o teu colo vai me desligar agora
Só a tua voz pode embalar meu sono pós-moderno
Só as tuas histórias fantásticas conseguem transcender esse mundo infértil

Mãe Imaginação
Me ame como amas as crianças

Ah, teus cabelos tem cheiro de infância
De giz de cera e castelos de areia
Queria ouvir nesse noite um tanto escura demais
Aquelas cantigas de roda que sempre mudam
Aquelas mil coisas que eu conseguia ser nos parques
A eterna voz dos meus brinquedos
Que nunca desaparecia
Porque estavas lá, ó mãe

Mãe Imaginação
Vem ficar comigo mais um pouco
Pois sem ti
Nada posso criar

Orgulho, Preconceito e Antenor.

Em um bar ou restaurante, (talvez até em uma casa - até hoje não se sabe ao certo), num país de nº mundo, dois seres conversavam. Intelectualoides, eram estudantes de alguma instituição de importância acadêmica (ou seja, não-particular) e provavelmente cursavam algo da área de Humanas (ou Marcianas, reiterando que estamos falando de seres com origens não exatamente conhecidas ou que importassem tanto assim).
X primeirx diz (sendo de uma sociedade avançadíssima onde haviam abolido os pronomes, a diferenciação de gêneros, a moeda e a revista Caras):
-Antigamente era muito melhor, melhor pra caralho!
A partir do qual x outrx responde:
-Como assim, enlouqueceu?
-Não, claro que não! Digo, claro que sim! Enlouqueci por causa deste Universo maluco. Onde já se viu: a gente estuda, estuda, pesquisa, pesquisa e... foda-se! - o palavrão era uma marca forte dessa sociedade avançada - Tudo pro caralho, esta merda! Um, dois, três, morremos, e os papers e papers publicados sobre assuntos que dizem pra gente serem de extrema importância não servem pra porra nenhuma, é só algum bam-bam-bam admirado falar qualquer bosta que ficam décadas e décadas comendo o cocô da boca dele e falando que tá uma delícia, parabéns, seu doutor! E isso acaba dando no quê: desinformação das massas, que leva à ignorância, ao ódio e à morte. E isso me deixa louco, sim, louco pra barelha.
-Até aí tá beleza, mas onde caralhas que antigamente era diferente? Correia de cavalo virou volante e guidão, estaca pra amarrar o animal virou gradezinha pra prender bicicleta, e padre que fala merda na praça virou babaca que fala merda na enternet - sistema de comunicação universal do tal grupo, não que isso seja assim tão relevante -, porra!
Seria bom informar a esta altura do texto que todos utilizavam-se do vocativo "Antenor" para se referirem uns aos outros.
-O ponto não é esse, Antenor! O que eu tô falando é o seguinte: de que adianta a gente descobrir um monte de coisa nova se ainda tem gente se matando por desgosto e passando fome?
-Ainda não saquei o ponto onde antes era melhor.
-Porque pelo menos antes a gente morria cedo!
-Ah, fala sério. Isso é só porque não publicaram seu artigo na revista né, ô, seu Antenor invejosinho.
Uma pausa preencheu o ambiente, com um silêncio que só era ouvido quando pediam para cantarem o hino nacional nas escolas daquele país. X primeirx, revoltadx, sibilou muitas vezes e até pareceu estar morrendo de desidratação de tanto que arranhava a garganta sem vocalizar uma palavra concreta, ao que x adversárix/amigx/Antenor/batata só assistiu, divertidíssimx.
Enfim:
-Tá, é.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Sintonizando o Ruído

O corpo morto e torto
vê o nada que molha olhos fervorosos
enrijecidos e cegados pela mata sem selva que mata sem culpa

Enquanto inatos artistas copistas da nata e sem bata humanista
batem e lutam consigo e sem trigo na boca de carne
em mares de alma e de mente e de gente indigente
pros tesuouros dos tolos mouros e alvos castradores de touros calvos no saco estéril
Pois de nada manjam os dois tais anjos da gênese-espécie
Pecaram, pois não?, e foi caro e em vão de trincheira

E o modo-etiqueta das sarjetas do humano entre-planos e entre histórias
passa não de hábitos exatos pros que comem pão, mas não pros que assam
Em contraste com mastros de madeira comida hasteadores
de bandeiras furadas representativas de asneiras e de nada

Já mal agradecidos são os cupidos que criamos
e que zombam do chumbo construto dos cardíacos em luto
pela graça sem comédia que retém rédeas nas praças peladas
Cá somos nós o pó e cal revolucionário que virou pessoa!
Amém.