domingo, 16 de julho de 2017

Quem é o arqui inimigo do mundo?

um rodamoinho avassalador
aterrissou na capital
tomou conta do território municipal
porque o nobre senhor
prefeito doutor
descobrira mais cedo
que havia - o medo! -
uma praça, o quintal
da criançada das ruas
e do povo mais velho
e da juventude

o próprio rod (abreviado)
ficou de fato assustado
por surgir de repente no cinza

parece que é causa do acaso
parece que veio do nada
mas não passa, no caso
de uma destruição contratada
encomendada por Ela
estupefata por suas regras terem sido tão invertidas,
afinal nunca nessa vida
poderia aquele senhor prefeito
saber da existência daquela senhora praça

era a praça onde,
apesar da sinfonia urbana
e da harmonia programada
se jogava bola
e conspirava assaltos
de brinquedos e videogames

era o lugarzinho onde,
às vezes no fim da tarde
uma senhora sentada tinha o pensamento que desvelaria todo o sentido de sua vida
ou tiraria um cochilo
ou reclamaria de seus filhos e netos desatentos
para depois sorrir com uma ligação
ou uma mensagem no aplicativo

era de fato, na praça
que se escondiam alguns poucos sonhos que sobraram
e que os jovens que lá iam para dar um rolê
fumar umzinho
e beber aquela
conseguiam ouvir quando paravam para prestar atenção

o mundo, de alguma forma,
ficava lá naquela praça
(e ao redor dela)
mas o mundo da praça era grande demais
e o senhor doutor não queria uma praça daquelas
gostava sim, era de mais
lugares onde nenhum segredo se revela
e que nada vive

tão pequeno o mundo do prefeito,
e tão grande o mundo da praça,
a própria Deusa teve de tomar uma atitude
pra consertar aquele erro de percurso
decidiu:

"não mais mundo sem praça,
não mais praça sem mundo.
Que se extermine todo o mundo que não é praça
para que só consiga se ver
sobre a
super
fíci
e
todo o universo."

sexta-feira, 14 de julho de 2017

expresso 2 (mas veio antes)

Nesse mosaico malfeito
desfaço meus sonhos
pra virarem pó
misturad com um tiquinho de açúcar e leite
numa panela
pra virar pastilha, de cacau
ainda mais amargas

Os tempos perigosos são os que precisam de mais coragem
A força se mede pela disposição que se tem em perder
Para as vitórias do futuro

Sensibilidade é entender suas impossibilidades
E a partir delas
Realizar o infinito que existe no espaço aberto pelos limites

Atravessar montanhas não é um desafio
O desafio é garantir que não se perca nenhum morro
ou morrinho
ou elevação
ou floresta
ou planalto no processo.
Fogo ganha de fogo que ganha de tudo.

E se o mundo é uma coisa só,
e o tempo é só mais uma dimensão,
e existimos,
para que lugares nos levam as estradas que existem
em todos
os lugares?
exatamente,
nenhum.

perguntas quentes como essas
nos exigem cabeças frias
e trocadilhos esquisitos, ruins e deslocados
como nos dias em que toda palavra é labareda
e todo pensamento, espinho agudo
e tudo que é engraçado tem uma boa porção de trágico

Precisa de muita matéria na alma
que leva adiante os nossos corpos
durante essa viagem interminável e intermitente
entre a Vida e a Morte.
E sobre a Alma,
a questão é, muito mais do que “existe?”,
“sobrou?”;
a resposta, como a todas as perguntas que sobraram,
é, naturalmente, não. Faz sentido?

the fim end

expresso

Roberta Pasárgada pegou uma encomenda no Paraguai e levou a encomenda do Paraguai para a fronteira entre Paraguai e Brasil
Na fronteira perguntou pro moço
“moço, posso passar?”
mas o moço era um policial armado
entretanto, sair do carro permitiria que Roberta visse as sacas de cocaína que o moço carregava detrás da viatura como um corpo provavelmente negro
lucrativo
então ele não saiu do carro
e preferiu atirar lá de dentro
Roberta hoje não tem mais braço esquerdo mas, destra, seguiu dirigindo até o Rio de Janeiro.
Mentira.
Roberta hoje não tem mais destreza no braço direito, mas havia desenvolvido uma improvável habilidade de dirigir com os pés. Foi até Cuiabá e trocou de carro; seguiu para Goiânia e de lá pegou um circular e um avião de Brasília (B S B) para Ilhéus
mas ilhéus não tinha aeroporto na época
então o vôo na verdade foi para Salvador, onde se encontrava a alfândega
E lá estava a Polícia Federal
Que falou: “ora ora”
Aí Roberta disse: “putz grilla”
mas na verdade estavam lá mais para prender um político tucano do que pra resolver assuntos de contrabando internacional
daí que Roberta seguiu impune e imune pra casa de sua filha
a quem entregou uma encomenda especial
era um presente de Natal
atrasado 24 anos.
Um CD dos Beatles que só fora lançado numa feirinha de rua em Cuzco
uma ocarina – do tempo?
uma flauta doce da Yamaha
o videogame que estava na moda
7 pendrives, só 2 funcionavam
livros bonitos
um abraço
uma lista de compras
uma lista de coisas que Roberta queria fazer com a filha antes de morrer
um peixinho dourado que provavelmente estava morto
de cansaço
um sino pra chamar a atenção de quem passasse na rua
moedas diversas
um tazo
cestas entrelaçadas
umas pílulas
maconha da boa
etc.
mas a filha de Roberta, pra dificultar as coisas
havia morrido num suspeito acidente doméstico
e já tinha tido o enterro

foi então que Roberta Pasárgada desistiu completamente de tudo.