domingo, 24 de setembro de 2017

Dias Ruins I

(esboço)

vai e vem medo e
se apagam motivos
pra esconder os segredos
sobre o que mói meus sorrisos

o dente trai a mente: brilha
enquanto o falado cai ao chão sem
ar

mas paira: próximo à morte na pedra suas
cores vibram como um pensamento-maquiavel:
somente para recordar os
quadros que eu deixei de pintar
a fim de que eu sentisse com toda força a
dor de me escapar o que nunca foi meu

e os sons perturbam toda razão e coerência, a essência já era, o concreto se esfacela contra a parede de tecido feito do maldito-não-dito e de todos os poemas que eu deixei de escrever porque seriam honestos demais

não que a desonestidade seja maldita ou até
evitada
mas mesmo
ela precisa
de algo de verdade
pra servir como não prisão,
liberdade

(fim do esboço)

Dias ruins II

domingos são dias ruins
em que o que era pra ter acabado, recomeça
e faz o recomeçar ser doloroso ou impossível

os dias que dizem inaugurar a semana são vingativos
jogam na cara tudo que não pôde ser
e fazem crer que jamais será

é ruim acordar num domingo de manhã
porque a luz do sol que bate não é convidativa e azul
mas cinza, enclausurada pelo dia que talvez não venha a ser
é cinza
daquilo que nunca chegou a queimar de fato

fotos de experiências que não querem ser contadas
distorcem, malvadas
a vida sumiu

segredos daquilo que todo mundo viu
e que só podem ser ditos
numa mente que se odeia

-
há sol?
essa luz que brilha longe não é uma ilusão que construí?
já que queima, será que faz bem, esse raio?
como alimentar-me de tão pouco por tão longo tempo?
como pude?
-

a depressão é um vazio
que engole tudo que é real
é espetáculo da realeza
insatisfeita com tudo

é quando o cérebro mudo
quer perder também os olhos

o dia mostra a beira
e eu me recordo: que faço eu, senão fingir
que o pôr-do-sol que vem
não tem nada de barreira?
pode vir, pode vir
pois o fim do dia que chega, na verdade
é de uma melódica terça-feira