Os cofres mandam, os nobres obedecem
Os nobres cansam, os pobres adoecem
Os pobres gritam, as ruas oferecem
A cura ao grito, à fome, à peste
As ruas lotam, as ruas crescem
As ruas lutam e o chão cadece
No solo infértil nada bom cresce
Além de ódio, antítese do que merecem
Os pobres odeiam e cospem na cara
Dos nobres com nojo do gado
Que os capturam e utilizam da vara
Até que não haja um rosto não marcado
Os tristes rezam e se entregam
Aos poderes que nada lhe negam
E só pedem em troca a crença
Para lhes dar o merecido em forma de benção
Os nobres, felizes, nunca pecadores
Rezam e rogam aos lindos senadores
E assim carregam os tristes eleitores
Padres, madres, garis e pobres pescadores
Os pobres choram e pedem à fé
Que volte à bondade e os ponha de pé
Que esconda o mundo como ele é
Que ronde os muros e guarde o sopé
Os pobres choram e gritam, enfim
"Essa revolta eu não mais guardo em mim!"
E voltam ao solo infértil, enfim
Para semear o que quiserem até o fim
Os cofres reclamam, os nobres obedecem
Os nobres batem, os pobres cadecem
Os pobres batem, a rua à prece
De um sangue correndo que desce, e desce
Os pobres batem, apanham e morrem
Morrem, apanham e batem
Morrem, morrem e matam
Matam quem bate, matam quem mata
E se perdem na mata que criaram
Ou que foram colocados, não mais sabem
E até o pobre triste mais sábio
Não acha o caminho de volta aos mares
Mas perdem a fé, a tristeza e o sangue
Trazem o mar à mata e transformam em mangue
E se mandam como se mandado fosse uma satisfação ingrata
Retiram as calças, o capuz e a bata
Antes gado, no mangue eles mandam
Nada errado, no mangue, eles fazem
Pois seu certo e errado já se mandou
E eles mandam no maniqueísmo de suas faces
E plantam amor, alegria e alface
Se vivem da dor que agora não nasce
E bradam um ardor tão difícil e de graça
Mas parece que o amor já perdeu a graça
Ainda que sobreviventes, somente sobrevivem
Ainda que tenentes, a cada dia só vivem
Sem luta ou ódio, não haveria paz e amor?
Será que são precisas cem lutas para nascer uma flor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário