domingo, 24 de junho de 2018

falar é fácil

os espinhos do peixe eu tiro com a mão
com espinhos da língua eu faço um pirão
tão salgado quanto a pedra do seu coração
com duas pitadas de pimenta
e cabeça de camarão

com o olho esbugalhado eu faço um colar
mas não há utilidade no vazio do seu olhar
que se espelha uma alma, cabe perguntar:
não teme que a desnutrição venha
um dia a te matar?

sirvo o almoço e da janta já me desfiz.
se ninguém come e prefere viver por um triz,
de nada adianta meu esforço infeliz.
fazer comida pra alma é como, no deserto,
construir um chafariz.

a mesa eu desmonto e dela faço igreja
para que todo o mundo desalmado veja
aquilo que ele próprio há muito abandonou
os sonhos ficam à mostra, numa bandeja
e noutra parte ficam fotos dos antigos beijos:
é o templo de tudo que já foi e nunca voltou.
talvez, então, aquele meu sagrado desejo
de alcançar tudo aquilo que eu tanto almejo
colapse e eu perceba que o presente chegou.

sábado, 23 de junho de 2018

resumo da 15ª aula ordinária de 2018

Os dados me dão dores de
cabeça e não cabe qualquer coisa
além das lentas listas
e relvas de irrelevância retidas nos
excertos examinados à exaustão
da mente dos mortos amestrados

O ar que há não dá
para encher nossos vazios-bolhas;
cidades inteiras renegam sentido;
esperança (absoluta) desejada (impossível), entretanto,
impraticáveis automotores desmobilizam
possibilidades emancipadoras. Imaginativos
paralelepípedos proparoxítonam paralelograminhos
Entretenimentose hiperoxidora artificializa
totalissimimamente.

Arcos
Flechas
Espadas
Balas
Gases
Bombas
Gazes
Estilhaços
Telas
Peças
Linhas
Desejos
Comércio
Corpos