domingo, 24 de setembro de 2017

Dias ruins II

domingos são dias ruins
em que o que era pra ter acabado, recomeça
e faz o recomeçar ser doloroso ou impossível

os dias que dizem inaugurar a semana são vingativos
jogam na cara tudo que não pôde ser
e fazem crer que jamais será

é ruim acordar num domingo de manhã
porque a luz do sol que bate não é convidativa e azul
mas cinza, enclausurada pelo dia que talvez não venha a ser
é cinza
daquilo que nunca chegou a queimar de fato

fotos de experiências que não querem ser contadas
distorcem, malvadas
a vida sumiu

segredos daquilo que todo mundo viu
e que só podem ser ditos
numa mente que se odeia

-
há sol?
essa luz que brilha longe não é uma ilusão que construí?
já que queima, será que faz bem, esse raio?
como alimentar-me de tão pouco por tão longo tempo?
como pude?
-

a depressão é um vazio
que engole tudo que é real
é espetáculo da realeza
insatisfeita com tudo

é quando o cérebro mudo
quer perder também os olhos

o dia mostra a beira
e eu me recordo: que faço eu, senão fingir
que o pôr-do-sol que vem
não tem nada de barreira?
pode vir, pode vir
pois o fim do dia que chega, na verdade
é de uma melódica terça-feira

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