sábado, 20 de julho de 2013

Despertar

Estava escuro e as estrelas brilhavam no céu, como lantejoulas no papel. O vento bagunçava seus cabelos. Realmente ventava muito em regiões montanhosas. Como seu pai costumava dizer antes de partir, como uma brisa. Não havia som. Não haviam distrações. Apenas o assovio em seu ouvido. Um assovio que a chamava, a seduzia, a tentava. Estremeceu. Ele a seduzia. Abusava de sua inocência e ignorância. Ela nem sequer sabia o que estava fazendo. Era tão nova. Ele dizia que era amor. Calor. Ela sentia muito calor. Realmente ventava muito ali. Ela respirou fundo e abriu os braços. Como fazia quando era criança, na chuva. Abraçava o mundo com um simples gesto. Era tão fácil quando não era obrigada. Quando as coisas eram mais simples. As pessoas costumavam fazer as coisas que gostavam. Bastava abrir os braços e abraçar. Abraçar o mundo, abraçar a vida. Sem pressões. Viver era a coisa mais fácil do mundo. Mas ela vivia atrasada. No mundo da lua. Gostaria de ir à Lua. Mas diziam que ela ficava no infinito. Um infinito bem grande. Do tamanho do amor que juraram à ela. Talvez o infinito não fosse assim tão grande. Fechou os olhos. Tudo sumiu. O breu dominou sua visão, assim como havia dominado seu coração. Lembrou das lantejoulas e quis vê-las de novo. “Só mais um pouquinho!". “Olha o que eu fiz pra você, mamãe!". Quem havia desenhado aquele céu para ela? Talvez seu pai. Ele estava tão longe agora. Quem sabe não estava no infinito? Suspirou. Se sentia bem ali. Longe da vida cujo sentido não entendia. Longe de quem havia transformado seu coração num vazio oco. Como sua mãe havia feito há bastante tempo. Mas estava longe do tempo ali. Estava mais próxima de quem queria ser. Lhe disseram que é preciso seguir seus sonhos. Não importasse o que. Ela deu um passo à frente. Queria acordar. Avançou de novo. Fechou os olhos. Realmente ventava muito. 

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