domingo, 21 de julho de 2013

Utopia - Primeiro Capítulo

Decidi manter um registro da minha vida pois tenho medo do que possa vir a acontecer. Meu nome é Jönen Karaben, e moro com meu pai e mãe no Vilarejo Harbander. É um dos últimos vilarejos de magos que existem, e o Governante está nos aniquilando um por um. E eu irei registrar tudo que acontece comigo a partir de hoje, pois tenho uma sensação de que o Exército Comum está cada vez mais próximo. Nos meus sonhos ouço a marcha deles, os tiros e os xingamentos. Sonho com seus chapéus longos e finos... E temo pela vida da minha família.
Programei esse Registro Vivo para que me acompanhe sempre, e meus pais me ajudaram a fazê-lo filmar constantemente e só quando eu me encontro por perto... não sei como, mas fizeram.

Na verdade sei como. Com a Arkana. Mas eu odeio isso. Odeio porque eu sou o único da família a não possuir o Legado Arcano, quando tento proferir as Palavras nada acontece além de eu me sentir um completo idiota. Até desconfio de não ser dessa família, não ser um elfo, que o reflexo no espelho está mentindo... talvez não seja desconfiança, na verdade. Seja esperança. Esperança de que eu sou inútil por algum motivo que não me é tangível, mas sei que esperar isso é algo vão. Tenho de me contentar com a realidade, que é a triste constatação de que eu não sirvo pra isso. Enquanto todos da família sabem se defender, eu corto lenha. Enquanto meus pais descobrem feitiços pra proteger a casa, eu cozinho Grãos da Casa pro almoço. 
E o que mais me incomoda é que... o que foi isso?
Ouço um barulho e imediatamente me viro para ver o que foi. Desço as escadas que levam ao Ambiente Conjunto da minha família, com os móveis e aparelhos heurísticos, procurando meus pais. Não os encontro dentro do Lar.
Abro a porta só para fechá-la novamente, me sobressaltando com o barulho de tiros na porta de madeira resiliente da construção. Olho pela janela do Ambiente, uma construção de madeira, vidro e cristal, e encontro meus pais.
De frente a eles, o Exército Comum descarrega seus Fuzis Absolutos, tentando feri-los. Enquanto isso, eles proferem as mais poderosas Palavras de proteção que conhecem, algumas que criaram e até uma parte de coisas improvisadas. Mas estão utilizando somente uma mão cada, a outra está ocupada dividindo com o outro uma espécie de... amuleto. Cada um segura-o com uma mão. Por enquanto nenhum Tiro Absoluto os atingiu, estão protegidos por uma bolha escarlate. Meu pai aparentemente se lembra que tem um filho e olha para dentro da casa, me vendo. Diz, sem a voz mas com os lábios: "porão".
Entendo imediatamente e me dirijo à porção inferior da casa, que abre somente com a leitura biométrica de um polegar previamente registrado, autorizando somente a entrada de meus pais e, claro, a minha.
O porão de nossa casa foi feito especialmente para essas situações, e nunca abre com explosões ou tiros. É um retiro absolutamente seguro. Temos provisões para passar mais de um ano aqui, se for necessário.
Sinto uma pontada em meu peito, como se alguém estivesse me chutado na altura do coração. Logo após, sinto outra pontada. Sinto que algo houve com meus pais. Estariam eles mortos?
Olho em volta do cômodo, livros preenchem estantes e Alimentos e Bebidas preenchem despensas. Na única mesa, há um livro aberto. Me locomovo até ele, e fecho-o. A capa está cheia de pó, então bato nele com a mão para enxergar o título.
"Arkonag", eu leio. O livro de magias da família.

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