terça-feira, 16 de setembro de 2014

Como é Bom Rir

O mato morreu.

Um gato miou,
e virou adubo
pro mato crescer
e morrer.

Uma chefe de Estado
assinou coisas bobas
e afagou seu bichano
que miava num brejo
e cresceu, só, com ela
para decompor no solo
onde a mata inteira
cresceu, foi comida,
usada e perecida.



Um pai sem família -
expulso de casa
por seu marido -
votou na mulher em que cria,
que a partir do seu voto (e de alguns outros) supôs
poder criar regras num mundo
que nunca fora dela, de fato.
Tinha mais rabo preso que seu gato
que cantava uma ópera antiga e recém-criada
em tons cinzentos de miados embriagados
e cansados, desgostosos e amargurados
pela fumaça dos papéis feitos de árvores
que nunca se discriminavam por cor: marrons,
matéria-prima do amor e das cartas perdidas,
imponentes e imunes à dor.
Ou ao menos assim nos vendiam.

A delegada de Polícia Civil de um município bem grande
achou esquisito e estranho, em pleno século vinte-e-um,
matarem alguém por gostar de pinto ou xoxota -
afinal, já não era tudo permitido? -
mas processou o caso de um, conhecido (e finado) pelo povo, bebum
que diziam beber por ter sido expulso de casa pelo "parceiro"
após abusar da filha adotada,
que, confusa e irritada, cometeu suicídio.
Ele próprio tentara, dizia sua ficha, se matar com remédios e bebida,
mas até nisso a vida não deixou ter sucesso.
A delegada culpou a safada da mulher em que votou -
não porque nela botava fé, mas era (convenhamos) a menos pior -
que prometeu erradicar os crimes, assassinatos, afins e assaltos
mas no final só deu de comer, mesmo, foi prum banco sueco,
onde um recém-rico-por-sua-causa xerife-de-renda afagava os pelos
de um bichano malhado que não pensava nem miava...
só comia, dormia e relaxava nos colchões e posses intermináveis do banqueiro,
pois assim era bom e assim ele ficava feliz. Pra quê outra coisa?,
se só via humanos que se davam bem fazer o mesmo?
Se soubesse ler, o gato veria os contratos
feitos de papel, tirado do mato (que vinha da raiz de todos os problemas, a vida,
a matriz perdida do sentido e do pensar em si,
pois se não há sentido no viver não há porque viver, e se há sentido
por que estamos vivos, mesmo?) e concordaria
que tudo aquilo era uma piada bem de mal gosto.

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