domingo, 24 de agosto de 2014

Um Dia Na Terra

Uma árvore caiu
ninguém ouviu
e se diz que não caiu
porque ninguém
queria ouvir
a alta planta
que querer, mesmo,
de verdade,
só queria,
só,
cair


E se viesse
uma auraucária
(daquelas mais atrevidas)
dizer que não morreu
um menino negro, de tiro,
num morro da cidade -
ela não ouviu nada! -
ele morreu?

Alguém escreveu no papel da planta:
Quando os capitães
das
epígrafes
apitarem a morte
das 
abelhas
os vilões dirão
dos
vivos
mil verdades, sim
das
histórias
sobre a lenda
do
futuro
Mas ninguém chegou a dar bola.

E pegou fogo
mas não em casa
nem na rua:
na floresta.
Não foi raio
nem foi Deus:
foi o mato
de Gaia e Prometheus
de dois pés e braços
que queimou o mato
de Deméter
louca de éter
numa boate qualquer

Quê que tem uma deusa
grega, em boates,
entorpecendo sua veia dourada
como uma burguesa?
Nem ela sabe.
Sabe que sua filha fugiu
com um traficante matador
que começou vendendo bala
pra dar de comer
à mãe paraplégica
- perdeu da virilha pra baixo
com uma bala achada por sua
coluna e perdida
por uma pistola que nunca amou -
e depois sequestrou a
coitada da filha
que queria foltar pra casa.
Seria seu aniversário
de vinte primaveras.

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