quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Debonaire.

o poeta senta-se a mesa
como Chopin ataca as teclas
ou como um cozinheiro afia a faca

dilacera sua carne em cubos
nem uma nota a menos, com
paixão obcecamos nossos vícios

ou são eles que nos obcecam?
turvos, queremos que um inferno
d’um palito de fósforo surja

essa fome cega e essa sede
do artista de se cortar em
cubos e notas mata mais à noite

quando o relento lhe faz louco
não se dá conta, o jantar
sua própria carne, servida em prata

a música ao fundo expande
mas sobra sal. cospe, vomita
sobre o tapete persa carmesim

desgosto de si é a morte
de quem escreve e toca e come
poesia, romantismo e mignon

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