Meu rosto está entupido de vergonha
A única coisa que consigo pensar é em me esconder nesse buraco
Não sei pra onde irei amanhã
E muito menos como chegamos até aqui
O orgulho dos nossos homens se ensoberbou sobre o vazio
O meu país é uma mentira
Sim, eu acreditei que nós iríamos entrar
E segurar esses soldados germânicos com a nossa destemida malemolência
Nossa malandragem selvagem
Até pintar uma vitória marota nos seus rostos pálidos
E depois subir um riso de deboche
Em cima do fracasso trabalhador daqueles homens
Afinal, nosso exército canarinho fez isso
Sucessivas vezes em todas as destemidas batalhas
Contra os batalhões matadores e subdesenvolvidos
Que tivemos de enfrentar
Nessa guerra que nem faz sentido
Nessa guerra que custou milhões
Nessa guerra que tirou as casas dos nossos homens
Nessa guerra corrupta e mafiosa
Eu consigo ver muito poucas coisas dentro desse meu buraco
Observo um pouco o nosso céu que não tem mais estrela nenhuma
E tenho lampejos violentos da batalha que nos avassalou
Primeiro, a chegada do regimento alemão
Calados diante dos gritos das nossas multidões
Quietos diante do nervosismo das nossas pretensões
Eles não cantaram hinos e não gritaram nada
Mas entraram com armas em punho
E, com golpes frios, precisos e mortalmente merecidos
Eles massacraram nossas tropas
Sete vezes
A maior parte dos nossos brilhantes guerreiros
Que não sabem fazer nada
Foi morta por homens cujos nomes sequer sabemos pronunciar
Eu sei que não foi só uma questão de tática
Ainda que a máquina de guerra alemã tenha demolido nossa estrategia fajuta
Eu sabia que a minha sorte e o meu jeitinho
Que me empurrou até aquele combate
Não ia conseguir enfrentar o trabalho
Que eles não tiveram medo de fazer
Eles treinaram na hora de treinar
Correram na hora de correr
Chutaram na hora de chutar
Descansaram na hora de descansar
E souberam jogar absurdamente
Dentro das regras deste mundo
E por isso eles filosofam melhor que nós
Constroem máquinas melhores que as nossas
E jogam melhor que nós
Eu ainda tive sorte de encontrar esse buraco
Onde a necessidade da revolução começa a tomar conta do meu corpo
Este século caiu
Este século, caímos
Porque nós não sabemos trabalhar
Porque nós não sabemos nos levar a sério
Porque eu, filho da pátria amada
Sempre fujo à luta
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