Próximo a um indistinto cadáver (sabível pelo vazio em seus olhos) achou-se uma carta. Sua carne era pegajosa, conservada em lágrimas. A carta era - de modo semelhante ao corpo que a segurava - melíflua e destilante, como segue:
Aos inativos e aos desinteressados:
(também aos inconvenientes ou simples desavisados)
Sua diferença é indiferente ao sistema.
Você não faz parte da solução, mas sim
do problema.
É seu o fardo da revolução,
é seu o peso do futuro esquecido -
rompido, rasgado -
por uma ingrata geração.
Não chore mais pelo direito derramado
(há tempos ele está no chão!)
mas sim por seus gritos vãos contra nada.
Aos de base e de apoio:
(cabível aos comboios sem lei)
Seu ouro não brilha menos que seu sangue.
Aos de luta vazia:
Vamos esquentar essa sua alma fria!
Há de esperar a cadaverização
de símbolos Neves ou Maluf
para cauterizar a ferida
e demonstrar alguma ação
(relevante)?
Aos nervosos e inquietos pelo amanhã:
(cabe igualmente o escritor nesta categoria
e nesta poesia vã)
Menos hipocrisia!
Mas não deixe de fazer, não.
Nunca pode-se deixar o sonho se um dia sonhou,
tampouco pode-se abandonar o fardo
que seu antepassado não carregou.
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