sábado, 5 de outubro de 2013

Cala a boca.

Se as palavras me escapam
Não tome-me como ingrato
Pois nada mais é que o fato
De minha língua travar quanto à mente

Mas se tomar, me toma
Como um remédio
Alguma coisa que cure, afete
Que possa te tirar do tédio

E que tenha afeto
Pois é um mundo aberto
Onde minhas palavras se param
E a mente atrasa a voz

Penso até que falo
Mas de falar já escrevi três livros
Fala o que pensa da vala
Que deixo nos versos descabidos

Mas fala! Fala que eu não consigo
Não posso guardar só comigo
O fado de falar, de fato
Ou o fato de calar-me o gado

Magoe-me, mas não cale minhas palavras
Que quando saem podem ser as mais poetas
Ou apenas uma piada discreta
Mas significam um verbo cabido

Caído, o coração mente
Mas a mente nunca pensa o contrário
Na verdade, é até mais arbitrário
Pois a consciência às vezes não manda em nada

Mas muda o que o coração acaba a sentir
Que de tanto calado tenta desistir
De pulsar as palavras que tanto o correm
Mas que correm o risco de serem esquecidas

As vidas inertes que não saem da boca
Destemidas e ébrias saudades e roupas
Que não cabem às palavras que se tenta calçar
Mas que são tão sinceras quanto o que tentamos falar.

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