quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Garoto da janela

Um apartamento, ou simplesmente "AP" para os pertencentes da gangue do Latino, o que importa é que o pequeno Alberto morava neste apartamento, miúdo e ainda não quitado. Para ser mais exato, o pequeno Alberto morava no nono andar do edifício Jandira 2. A janela do quarto onde o garoto dormia com a mãe ficava fitada para a avenida, lá dava para ver tudo, cada pessoinha insignificante passando ali em baixo.
   A mãe feia e gorda de Alberto estava em seu sono de beleza, este que pouco funcionava, mais a coitada acreditava, até dormia com alguns pepinos embebedados em creme branco que mais parecia leite de porra nos olhos, e o Alberto ali, de joelhos sobre a cama fitando tudo pela sua janela, ele se sentia bem, não tinha muito o que brincar e aquela era uma das suas maiores diversões.
   Alberto via de tudo, via traveco fazendo ponto, pastor divulgando igreja, mendigo pedindo esmola, corrupto subindo no palanque, a única coisa que Alberto não via era pessoas olhando para a sua janela. Ele observava todos porém parecia invisível aos olhos dos mesmos. 
   Hoje Alberto está sozinho em casa, está ali sentado na mesa da cozinha com um papel e um lápis na mão. Ele desce e vai até a avenida, é um mini-homem andando sozinho em um mar de gente, mas ele não se incomoda, cola o seu papel no poste e volta para a sua casa. Novamente da janela ele fica observando  porém agora dando atenção especial ao poste que guarda a sua folha. 
   Depois de um bom tempo de espera, finalmente um infeliz para para ler o papel de autoria do garoto. Influenciado pelo que acabara de ler, o primeiro rapaz olha para cima com um gesto de quem agradece a deus. "Otário", Alberto gritou. A gargalhada maléfica foi instantânea, as lágrimas escorreram ao longo de suas bochechas carnudas, o tesão pela maldade aflorava em Alberto.
   Porém aquilo foi um tiro - O rapaz logo depois que recebeu o elogio rasgou a arte do garoto e pois fim na brincadeira  - e tiros disparados não tem volta. Alberto estava pouco se fodendo para isso, carregada uma metralhadora da maldade carregada com balas onde a pólvora era o "não ter o que fazer ".
   Não seria, hoje, nem amanha, talvez quarta feira, porque a tia Tatiana tinha chamado a mãe para um passeio. Dito e feito, estava lá Albertinho com um rosto de anjo preparando o seu novo trabalho, escrevia o seguinte no papel: "Olhe para o céu e agradeça a sua crença, tudo há no poder divino".
   E foi lá ele, pegando o elevador e coçando a bunda pois estava sozinho. Colocou o papel no mesmo poste e subiu para o seu posto de observação. 
   Aguardou e a resposta veio mais rápido que o esperado, logo o primeiro "Otário", como dizia o garoto, olhou para o céu, porém dessa vez Alberto não fez nada, apenas observou. Depois de algum tempo veio outro, Alberto continuou calado, porém não tirava o sorriso maléfico do seu rosto. 
   O cartaz permaneceu lá por algumas semanas até que a chuva e o sol o tornassem ilegíveis. Alberto não precisou recolocá-lo, pois algum dos muitos que agradeceram aos céus retornou para agradecer e repôs o cartaz. Não durou muito tempo para que aquele ponto se tornasse o pontos dos milagres e o Alberto só observava. 
   O sentimento de poder vou crescendo em seu interior , sabia que tudo aquilo era armação dele e que ele influenciava algumas centenas de pessoas .Logo veio o pastor divulgar a igreja , o politico oportunista veio também ser devoto do poste e deixar um grande cartaz com seu rosto estampado , o traveco e mendigo não demoraram e logo lá estavam fazendo oque lhes cabia . 
    Ela dia de palanque , havia um sujeito jovem do lado do poste em um palco de madeira gritando palavras de ordem e fazendo a pele dos tolos arrepiarem , realmente parecia promissor tudo aquilo que o rapaz dizia .As senhoras diziam "Olha como ele é bonito , vou votar nele"  , alguns outro cochichavam " era isso que o povo precisava " , todos estavam ali felizes tomando suas cervejas , e o mendigo também estava com um sorriso de orelha a orelha , não tinha casa e nem condições de trabalhar para comprar a sua marmita mas estava ali ganhando esmola feito nunca . 
   A mãe de Alberto estava lá embaixo , tinha levado o garoto para acompanhar a agitação , mas Alberto queria mesmo estar lá de cima , observando os frutos de sua obra . Disse o garoto que estava com vontade de ir ao banheiro , mentiu , apenas queria subir para ficar em seu devido lugar de Deus . 
  Estava na hora , ele já havia aguardado muito e finalmente pode gritar bem alto quando todos faziam silencio para escultar o palanquista que estava lá em baixo . Gritou o grito que segurava a um bom tempo , o "otário" atingiu o ouvido de todos inclusive o ouvido de sua mãe . Ele ria e  sapecutiava na cama na maior alegria possível , finalmente tinha chegado o dia , riu tanto que se mijou , molhou a calça e respingou a cama , e quanto teve folego para observar a multidão de otários não viu nada de mais ... ninguém tinha dado atenção para o seu ato podre , não houve vaia , não ouve nada , todos ouviram e todos ignoraram . 
   A tristeza viria se a Dor não fosse mais rápida , a mãe do garoto abriu a porta já com sinto na mão e tratou de dar umas esporradas no moleque arteiro . Ficou com dor na bunda durante alguns dias , mas logo passou .E como garoto arteiro que é , logo achou outro ponto para observar o povo caminhando e armar as suas pilantragens .
                                                                  -
  Alberto era um deus sem voz , dizia a realidade , mas seus súditos já estavam corrompidos pelos oportunistas . Era só questão de tempo até todos esquecerem daquele poste . É um ciclo , ditado por um garoto arteiro que observa tolos criando alguma coisa para se crer .

Nenhum comentário:

Postar um comentário