segunda-feira, 16 de julho de 2018

Fogo

meu riso é pesado
minha carne é leve
meu corpo é vazio

o gelo do frio
me congela os sentidos,
e um baixo chio estremece
meus pensamentos partidos.

o que sou é mudança, mas
me sinto estátua. a chama enfática e
eufórica que antes me ocupara
doía,
e na ânsia da cura me despi
de qualquer bom calor.
a dor era imensa e
fazia
qualquer sonho converter-se em
cinzas sob a intensidade
de sua chama.

o amor por mim tornou esse calor estranho,
perigoso e vulgar.
deveria ser escondido,
nunca mais ousar
ocupar lugar algum.

hoje, quando o frio faz de sua presença
um fio de navalha que não permite nem
dor, eu respiro a fumaça restante
da alma, para me insuflar
a lembrança do calor.

e quando o coração volta a bater, desperto,
eu tento abraçar o fogo com meus braços abertos
mas o que ele quer não é valentia - essa burra e
vaidosa atitude sem
serventia para além de uma queimadura
e uma história pra contar.
quer coragem para eu não me impedir de procurar
um abrigo contra o frio, pois precisamos calor
e algo para preencher
todos os vazios
formados por nós mesmos.
mas, também,
coragem - essa sim - para não me deixar seduzir
pela potência da chama
que queima e reclama para si
tudo que pode existir. A chama deve ser minha
- e eu dela -
até onde o meu corpo, sábio, permitir.

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