quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Jornal

Proveniente de uma atividade recreativa em um grupo de escritores, do tipo "escreva sobre a foto a seguir":


Eu disse a ele que o amava imensamente, mas a ligação foi cortada pelo governo chinês e não houve mais comunicação. Ele era um jornalista, quando vivo. Nunca soube explicar se ele nutria mais sentimentos por mim ou pela sensação de correr atrás de fatos escondidos em arquivos e mentes lotadas de segredos. Não que isso realmente importe, de fato. Ao menos não agora.

De qualquer forma, me lembro que passei meses sem conseguir falar com ele. Passei a me preocupar com seu bem-estar e, após meses sem retorno algum, fosse por telefone ou por internet, comecei a perder as esperanças.
Milhares de pensamentos passavam pela minha cabeça: será que ele voltaria? Será que fora assassinado pela ditadura chinesa? Será que fora exilado a algum país europeu de baixa qualidade de vida ou obrigado a trabalhar como escravo?
Será que ele se apaixonara por alguém melhor que eu?
Todas essas perguntas só faziam com que minha mente se perturbasse, viciando-a com dúvidas sobre nosso amor o bem-estar de Carlos.
Era uma manhã de verão quando vi nascer o primeiro fio branco em minhas madeixas, antes loiras. Era o sinal de que aquilo estava me consumindo, pois nunca foi encarado com normalidade uma mulher de vinte e quatro anos ter cabelos brancos.
Fui à farmácia comprar algo para tingir meus fios, acabei por passar pela casa de minha mãe, que morava por perto. Tingi o cabelo lá mesmo, e após um pouco de choro e bons conselhos maternos, voltei à minha casa. O céu já havia escurecido.
Então que notei um estranho carro perto da varanda. Contornei a casa para ver se havia sido invadida, com o celular em mãos pronto para discar o 190.
E, então, perto da cerca que dividia minha casa da vizinha traseira, eu o vi.
Não lembro se gritei "Carlos" primeiro ou se comecei a chorar. Mas me lembro que, quando nos abraçamos, foi mágico de uma maneira que eu não conseguia explicar.
Foi tão intenso...
Tão intenso que minhas lágrimas caíram do céu.

Ah, Carlos, como sinto a sua falta...


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