domingo, 14 de julho de 2013

Utopia - Prólogo

Eu acordo no meio da noite, sobressaltada. Estava sonhando com uma galáxia distante. Decido ir à Casa Central pegar água, um copo de Suco Animal e alguns biscoitos duros para passar melhor a noite. Olho em volta e só vejo meu Recanto Pessoal, agora fechado. Ainda emana um leve ar etéreo. É prateado, com uma cúpula de vidro cobrindo-o. Dentro posso ver o estofado marcado com o formato do meu corpo e o cano que provém gás-do-descanso pra mim todas as noites. Enquanto isso, um pouco sonolenta, entro na Câmara de Transporte, o  único componente no meu quarto fora o Recanto, e penso na Casa Central. Abro os olhos e lá estou no meu departamento de provisões.
Enquanto isso, penso em como é curioso todo o conceito da Casa. Após a Grande Guerra, nossas vidas foram reduzidas à convivência nos Centros Sociais, idas à Casa Central, onde todos os habitantes possuem uma seção diaremente reposta de cereais, líquidos e provisões no geral, e descanso em nossos Recantos. Nada mais é necessário, também. Precisamos simplesmente sobreviver e procriar durante o Guhäs até que nosso planeta seja reconstruído. A população já está beirando os 80 habitantes no mundo, e isso é um ótimo progresso.
Quando vou pegar uma porção de biscoitos duros, alguma coisa cai da estante junto aos pacotes. É um pequeno disco de metal, com umas inscrições em uma língua que eu não compreendo. Coloco-o no bolso e sigo com meus mantimentos debaixo dos braços e garrafas de água e do branco Suco Animal em mãos. Sigo para a Câmara de Transporte e penso no meu Recanto. Lá chegando, coloco a comida em uma estante dobrável que todos temos na parede logo abaixo da janela artificial. Coloco uma paisagem rural na janela, programando-a com as pontas dos meus dedos. Penso em colocar um filme mas há tempos que não temos mais nenhum disco de vídeo...
Lembro do pequeno objeto que peguei na Casa Central. Ansiosa, coloco o disco no espaço que seria destinado para filmes, na esperança de que ele seja reconhecido..
A paisagem rural desaparece, e ao invés dela um homem... ou melhor, uma criatura com feições masculinas se projeta na tela. No canto direito aparece o seguinte:
429 do nono ciclo
Vilarejo de Yorkana
9:30 da alvorada
Nono ciclo?
Isso é tão antigo...
E então ele começa a falar em um idioma que eu não reconheço... Seria o Idioma Derrotado? Isso só seria possível se ele fosse um... elfo.
Não.
Abandono a possibilidade da minha mente, pois aliás todos os registros prévios à Grande Guerra foram destruídos por conta da batalha que os rebeldes criaram contra o Grande Governante.
Mas ainda assim...
Decido primeiro averiguar o vídeo antes de pular a conclusões precipitadas. Ligo o subtexto para que consiga entender o Idioma na minha língua. Então a legenda começa a aparecer.

Decidi manter um registro da minha vida pois tenho medo do que possa vir a acontecer. Meu nome é Jönen Karaben, e moro com meu pai e mãe no Vilarejo Harbander. É um dos últimos vilarejos de magos que existem, e o Governante está nos aniquilando um por um. E eu irei registrar tudo que acontece comigo a partir de hoje, pois tenho uma sensação de que o Exército Comum está cada vez mais próximo. Nos meus sonhos ouço a marcha deles, os tiros e os xingamentos. Sonho com seus chapéus longos e finos... E temo pela vida da minha família.

Nenhum comentário:

Postar um comentário