Quem é o tal homem moderno
que debaixo de seu terno
só existe?
Sem pé, o meu ser não é belo
mas além de suas terras
resiste.
A tal que é, ó, grandiosa
não mata suas crias no cio?
Não joga suas vidas no rio?
Não mata as crianças
que nascem sem
a esperança
da selva?
"Amai uns aos outros, otários"
é o mandamento que mantêm em riste
e levantam, esquecendo do adendo:
"O seu próximo é próximo a igual,
seu futuro, mais perto do mal
pois só reconhecerás, filho inerbe,
semelhante aquilo que és".
Já perguntaram
por quem os sinos dobram.
Mas responderam sem dobrar o papel para si?
Mas responderam?
Ademais, o estado
do Estado não é líquido,
nem de bem estar ou
de São Paulo.
É da mulher e do homem moderno,
é dos que veem matar mas não matam..
que se veem morrer
e só rezam.
sábado, 26 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
Vapor, Segredos e Sangue
A Queda do Assassino
Os alarmes silenciosos haviam sido disparados, e o Marcador pulou pela janela transparente do mais alto prédio de Torraltas.
O vento tosquiava qualquer melodia bruta em volta da orelha boa de Bemo, e o único item a ser protegido era a adaga. Ao alcançar seu bolso esquerdo, sentiu aquele imundo e indesejado sangue que lembrava-o do Desígnio que o levara àquela fuga improvisada... e toda a culpa e remorso que se seguia.
Mas a queda livre não era a maternidade mais propícia para lágrimas, então prosseguiu se lembrando de como voar.
“Lembre-se da leveza das nuvens, aspirante”, era o conselho de Mestra Perla, mas ele não conseguia deixar de pensar em morte.
A aproximação a cada momento mais veloz do solo despertava lembranças – seu amor por Jorem, sua vontade de ser aceito entre os Marcadores, a primeira vez que sentiu alguém por dentro... – mas a desencarnação era uma preocupação mais urgente que seu filme mental pré-cadavérico.
“Penso em nuvem, sou leve, sou nada.” – ele, não verbalmente, mantrava – “Penso em nuvem, sou leve, sou nada. Penso em nuvem, sou leve...”.
Quando percebeu que o chão nada fizera para atender suas preces – não valia mais que qualquer divindade dos teólogos mais nobres, aquele chão –, Bemo tentou repetir os segredos-de-alma em voz audível, falhando miseravelmente. À primeira abertura de sua boca, o vento colaborou para rasgar seus pensamentos e, acreditava, fê-lo presenciar (e experenciar) o primeiro caso de engasgamento por ar.
Se não tivesse aceitado aquele primeiro Desígnio, se não tivesse se juntado aos Marcadores... se sequer escutasse quaisquer conselhos daquilo que denominava consciência, não morreria esmagado contra o chão.
Mas Bemo estava inquietantemente próximo da inexistência.
Fim de capítulo
Comece pelo fato de que mortos não escrevem autobiografias.
A partir disso, pule para a conclusão: “se mortos não escrevem livros, o responsável pela escrita – inclusive do próprio fato de que literatura do além não pertence ao conjunto dos escritos factíveis - é alguém vivo”.
Correto!
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Parabéns!
Estrelas douradas
pois você não fez nada
pro mundo.
Mas saiu bem bonito de casa!
De mil namoradas
líricas, empíricas e oníricas
já escolheu alguns pares
danados.
Que se dane, é a vida bendita!
É bonita, é bonita
você.
É a fita, o colante do
que se deixa ver
mas não vê.
Você é o mesmo, a mesma, pessoa!
Você não mudou nada desde as últimas
férias.
Já cresceu tanto,
não pode parar (?).
Já morreu pelos cantos,
já cantou pelo mar.
Não que tenha feito
bem ou mal algum.
Está além ou abaixo
ou depois disso tudo.
É o texto, o poema
que faz ouvir o surdo.
Muito bem, seu imundo
cidadão subcomum!
pois você não fez nada
pro mundo.
Mas saiu bem bonito de casa!
De mil namoradas
líricas, empíricas e oníricas
já escolheu alguns pares
danados.
Que se dane, é a vida bendita!
É bonita, é bonita
você.
É a fita, o colante do
que se deixa ver
mas não vê.
Você é o mesmo, a mesma, pessoa!
Você não mudou nada desde as últimas
férias.
Já cresceu tanto,
não pode parar (?).
Já morreu pelos cantos,
já cantou pelo mar.
Não que tenha feito
bem ou mal algum.
Está além ou abaixo
ou depois disso tudo.
É o texto, o poema
que faz ouvir o surdo.
Muito bem, seu imundo
cidadão subcomum!
terça-feira, 8 de julho de 2014
Semifinal
Meu rosto está entupido de vergonha
A única coisa que consigo pensar é em me esconder nesse buraco
Não sei pra onde irei amanhã
E muito menos como chegamos até aqui
O orgulho dos nossos homens se ensoberbou sobre o vazio
O meu país é uma mentira
Sim, eu acreditei que nós iríamos entrar
E segurar esses soldados germânicos com a nossa destemida malemolência
Nossa malandragem selvagem
Até pintar uma vitória marota nos seus rostos pálidos
E depois subir um riso de deboche
Em cima do fracasso trabalhador daqueles homens
Afinal, nosso exército canarinho fez isso
Sucessivas vezes em todas as destemidas batalhas
Contra os batalhões matadores e subdesenvolvidos
Que tivemos de enfrentar
Nessa guerra que nem faz sentido
Nessa guerra que custou milhões
Nessa guerra que tirou as casas dos nossos homens
Nessa guerra corrupta e mafiosa
Eu consigo ver muito poucas coisas dentro desse meu buraco
Observo um pouco o nosso céu que não tem mais estrela nenhuma
E tenho lampejos violentos da batalha que nos avassalou
Primeiro, a chegada do regimento alemão
Calados diante dos gritos das nossas multidões
Quietos diante do nervosismo das nossas pretensões
Eles não cantaram hinos e não gritaram nada
Mas entraram com armas em punho
E, com golpes frios, precisos e mortalmente merecidos
Eles massacraram nossas tropas
Sete vezes
A maior parte dos nossos brilhantes guerreiros
Que não sabem fazer nada
Foi morta por homens cujos nomes sequer sabemos pronunciar
Eu sei que não foi só uma questão de tática
Ainda que a máquina de guerra alemã tenha demolido nossa estrategia fajuta
Eu sabia que a minha sorte e o meu jeitinho
Que me empurrou até aquele combate
Não ia conseguir enfrentar o trabalho
Que eles não tiveram medo de fazer
Eles treinaram na hora de treinar
Correram na hora de correr
Chutaram na hora de chutar
Descansaram na hora de descansar
E souberam jogar absurdamente
Dentro das regras deste mundo
E por isso eles filosofam melhor que nós
Constroem máquinas melhores que as nossas
E jogam melhor que nós
Eu ainda tive sorte de encontrar esse buraco
Onde a necessidade da revolução começa a tomar conta do meu corpo
Este século caiu
Este século, caímos
Porque nós não sabemos trabalhar
Porque nós não sabemos nos levar a sério
Porque eu, filho da pátria amada
Sempre fujo à luta
segunda-feira, 7 de julho de 2014
O Abandono da Sintaxe
Sim, deixa essas tuas palavras sem sentido
Esquecidas na dispensa
Faz delas não mais que um objeto indesejado
Que relíquias de um mundo descartável
Que no fim
Elas não podem ser mais que isso
Deixa que tomem poeira e se apodreçam
Deixa que se contorçam e se caiam e se e se
Se percam se
Fossem mais
Não se não se
Destruam-se
Mas se apaguem
Dorme teus verbos
Dilui teus substantivos
Deixa que despenquem da tua língua
Para o abismo do riso
Para o abismo do
O que significa
isso?
Que as mais belas juras de amor que ressoaram sobre as sílabas desses vocábulos perdidos
Nunca poderão ser sentidas novamente
Nunca poderão ser ditas da mesma forma
Sei que queres ver que se desmembre o idioma
No qual xingaram a tua mãe e o teu filho
Que te importa?
Que diferença te faz se já não pensas?
Acetábulo batanca canídeo carveol clamator eslaide filosofema káon micondó odivelense redarguir retopexia redaximar sageza sairuçi siparuna hadoque vetusto extirpável convício baselácea mariseira opistocifose paracaxi pleitear protombina saninaua taraxaco tiquira inhambuanhanga gazofilácio embiópteros
Sinovial sinóvia sinrizo sinsépalo sintático sintagma sintagmatarca sintagmático sintática sintático
Sintaxe
Todas elas jazendo nesse cemitério
Que falas
Para de fingir tua pena
E abandona tua sintaxe
Frágil, indefesa, enroladinha num manto
Na porta de uma casa que vai cuidar dela
Que vai acariciar seus fonemas numa noite escura
E pra ela dormir vai contar histórias sobre um tempo
Bom onde os homens conversavam em suas palavras
Discutiam em suas junções
Brincavam com suas construções
Poetavam com suas frases mais bonitinhas
(Ai!)
Pragueavam em suas exclamações mais chulas
(Caralho!)
E sentiam o peso imenso de suas sentenças mais curtas
(Sim!)
E ela vai acordar sonhando
Com os falantes que não ouve há muito e muito tempo
Sim, abandona tua sintaxe
E vai buscar algo que o valha
Nessa teu mundo alternativo da comunicação ultra-veloz e muito maravilhosa em que não cansas de cansar teus dedos frenéticos nas telas que cabem no seu bolso do novo século
Mas não destrói essas palavras não!
Esquecidas na dispensa
Faz delas não mais que um objeto indesejado
Que relíquias de um mundo descartável
Que no fim
Elas não podem ser mais que isso
Deixa que tomem poeira e se apodreçam
Deixa que se contorçam e se caiam e se e se
Se percam se
Fossem mais
Não se não se
Destruam-se
Mas se apaguem
Dorme teus verbos
Dilui teus substantivos
Deixa que despenquem da tua língua
Para o abismo do riso
Para o abismo do
O que significa
isso?
Que as mais belas juras de amor que ressoaram sobre as sílabas desses vocábulos perdidos
Nunca poderão ser sentidas novamente
Nunca poderão ser ditas da mesma forma
Sei que queres ver que se desmembre o idioma
No qual xingaram a tua mãe e o teu filho
Que te importa?
Que diferença te faz se já não pensas?
Acetábulo batanca canídeo carveol clamator eslaide filosofema káon micondó odivelense redarguir retopexia redaximar sageza sairuçi siparuna hadoque vetusto extirpável convício baselácea mariseira opistocifose paracaxi pleitear protombina saninaua taraxaco tiquira inhambuanhanga gazofilácio embiópteros
Sinovial sinóvia sinrizo sinsépalo sintático sintagma sintagmatarca sintagmático sintática sintático
Sintaxe
Todas elas jazendo nesse cemitério
Que falas
Para de fingir tua pena
E abandona tua sintaxe
Frágil, indefesa, enroladinha num manto
Na porta de uma casa que vai cuidar dela
Que vai acariciar seus fonemas numa noite escura
E pra ela dormir vai contar histórias sobre um tempo
Bom onde os homens conversavam em suas palavras
Discutiam em suas junções
Brincavam com suas construções
Poetavam com suas frases mais bonitinhas
(Ai!)
Pragueavam em suas exclamações mais chulas
(Caralho!)
E sentiam o peso imenso de suas sentenças mais curtas
(Sim!)
E ela vai acordar sonhando
Com os falantes que não ouve há muito e muito tempo
Sim, abandona tua sintaxe
E vai buscar algo que o valha
Nessa teu mundo alternativo da comunicação ultra-veloz e muito maravilhosa em que não cansas de cansar teus dedos frenéticos nas telas que cabem no seu bolso do novo século
Mas não destrói essas palavras não!
domingo, 6 de julho de 2014
O Trovador Outonal
As folhas deste outono estão deitadas sobre o solo
Não sei se é possível contá-las
Aliás nem sei que outono é este
E tampouco se estas árvores sabem alguma coisa
Sobre mim
Eu consigo ouvir o vento cantando
Músicas muito antigas
Feitas por compositores muito antigos
Melhores que Mozart, melhores que Bach
Melhores que Strauss e Beethoven
Melhores que eu e você e qualquer coisa que nossos netos possam se tornar
Composições maravilhosas que o tempo desfolhou
E não serão ouvidas nunca mais
Ah, quantas revoluções se passaram
Nesse campo do desconhecido!
Quantas nuvens passaram no céu que não conseguimos observar!
Quantos obras primas o tempo simplesmente decidiu apagar!
Quantos infinitos se perderam depois que tudo passou?
No fim só sobram as pessoas
E depois elas vão também
Aqueles compositores se foram e sequer deixaram folhas
E se deixassem não serviriam de nada pois nada haveria que se escrevesse nelas
Talvez porque nossos cérebros pensassem em linguagens diferentes
Apesar de nossas almas sentirem em intensidade igual
Ou talvez tenham deixado
Alguma coisa escrita numa pedra qualquer
Jogada por aí
E nós encontramos! Sim, encontramos!
E cientificamente a aprisionamos na condição de uma runa antiga
A ser friamente analisada por microscópios assépticos
(Que sequer tem ouvidos!)
Prontos para encontrar qualquer clichê da simbologia antropológica nas linhas do trovador
Não
Muito improvável
E aliás isso nem faz sentido
Pensando bem, eles deixaram muitas folhas
Nesse outono eterno
Que é o mesmo desde que nós somos homens e as folhas são folhas
E ambos caímos
Sim, essas folhas que deixaram
Dentro do trovador um sentimento
Deixam em mim a mesma coisa
Fazem vivo o trovador dentro de mim
Deixam que ele toque dentro dos meus pulmões cheios desse ar outonal
A música que fez para estas árvores
Conforme caem essas mínimas alaranjadas
Sobre um solo
Meus olhos fazem respirações semibreves
Não penso em nada e o vento
O vento continua cantando
Não sei se é possível contá-las
Aliás nem sei que outono é este
E tampouco se estas árvores sabem alguma coisa
Sobre mim
Eu consigo ouvir o vento cantando
Músicas muito antigas
Feitas por compositores muito antigos
Melhores que Mozart, melhores que Bach
Melhores que Strauss e Beethoven
Melhores que eu e você e qualquer coisa que nossos netos possam se tornar
Composições maravilhosas que o tempo desfolhou
E não serão ouvidas nunca mais
Ah, quantas revoluções se passaram
Nesse campo do desconhecido!
Quantas nuvens passaram no céu que não conseguimos observar!
Quantos obras primas o tempo simplesmente decidiu apagar!
Quantos infinitos se perderam depois que tudo passou?
No fim só sobram as pessoas
E depois elas vão também
Aqueles compositores se foram e sequer deixaram folhas
E se deixassem não serviriam de nada pois nada haveria que se escrevesse nelas
Talvez porque nossos cérebros pensassem em linguagens diferentes
Apesar de nossas almas sentirem em intensidade igual
Ou talvez tenham deixado
Alguma coisa escrita numa pedra qualquer
Jogada por aí
E nós encontramos! Sim, encontramos!
E cientificamente a aprisionamos na condição de uma runa antiga
A ser friamente analisada por microscópios assépticos
(Que sequer tem ouvidos!)
Prontos para encontrar qualquer clichê da simbologia antropológica nas linhas do trovador
Não
Muito improvável
E aliás isso nem faz sentido
Pensando bem, eles deixaram muitas folhas
Nesse outono eterno
Que é o mesmo desde que nós somos homens e as folhas são folhas
E ambos caímos
Sim, essas folhas que deixaram
Dentro do trovador um sentimento
Deixam em mim a mesma coisa
Fazem vivo o trovador dentro de mim
Deixam que ele toque dentro dos meus pulmões cheios desse ar outonal
A música que fez para estas árvores
Conforme caem essas mínimas alaranjadas
Sobre um solo
Meus olhos fazem respirações semibreves
Não penso em nada e o vento
O vento continua cantando
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